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Tuesday, November 15, 2005 

Do incompreensível...

Do incompreensível
Das folhas arqueadas e seduzidas nas distantes formas de se olhar.
Da inconstância do certo e do incerto.
A suposta magia de que tudo é transcendental torna-se por vezes baça, mas há tanto na delinquência das cores e das poses, oh Visão!
A derradeira força da música corre por riachos de sangue e invade, comove e estremece, oh Audição!
Da ternurenta nudez onde reluzem águas-marinhas sente-se no deleite de mil convulsões orgásmicas, oh Toque!
E do sabor das coisas, que também por momentos é dos mundos, das cores, do amargo e do picante, do doce e do salgado, oh Palato!
E da loucura, do êxtase, da cadência perpétua dos aromas, cheiros que me regam de desejos e inconstâncias onde rogo por ficar, oh Olfacto!
O que é compreensível?
O que vejo, ouço, sinto, saboreio, cheiro?
Ou a sensação que um dia, talvez, lá nas monumentalidades estranhas dos dias futuros, sentir-se-á tudo isso como verdadeiro e puro?
O puro e o verdadeiro há muito que do meu dicionário se tornaram alimento das traças que se alimentam de significados passados.
Do incompreensível...
Bem do nonsense...
A novidade dos segundos, a alienação, e a estranha perfeição do desconhecido.
Da loucura, do sexo, das emoções, das amizades, cumplicidades, olhares, toques e possessões, desses perspicazes momentos, em que nada é o que é, em que tudo é o que nada até aí tinha sido, daí provém o incompreensível.
E é belo não é?


Dreamer


Da exaltação dos sentidos. Dos limites da razão e da celebração do infinito. Do meu infinito, do teu infinito e de tudo o que em nós é inconstante e se rebate em aforismos infinitesimais.
Falo-te da visão do agora e da proximidade, da distância e do passado e da magia e da revelação numa linguagem promíscua de signos e de sinais que se passeiam pelo teu olhar sedento de mais. E tudo está à tua frente numa torrente frenética e dividida de cores, nos contornos distorcidos e no caminho ad aeternium onde descansas fugazmente o que entendes por olhar. Vês?
Da sucessão de escalas indefinidas, de pianos e de violinos e dos sussurros que se erguem na imensidão transcendente da noite. Da musicalidade e das vozes que se misturam nos fluidos que nos percorrem. De tudo o que guardamos de nós e dos outros na sonoridade do silêncio. E no silêncio damos corpo às palavras em diálogos amordaçados de sentir. Ouves?
Estendes a mão, aquela que um dia soubeste que foi agarrada e percorres o corpo que se estende à tua frente. Esse corpo que se entrega ao teu quando as noites de ambos se desnudam e têm a mesma duração. Tacteias?
Do sabor de viver em compassos demasiado singulares. Do caos do sabor. Da indefinição das palavras e dos gestos que procuras agrupar por sabores. Saboreias?
Erguem-se arcadas e templos helénicos em aromas e pulsões. Procuras nos outros o cheiro que queres guardar para ti, procurando reconhecer o teu próprio cheiro nos outros. Cheiras?
Procuras o dado puro da sensação, o conhecimento não contaminado e a compreensão que um dia julgaste ser capaz de atingir. E não te deram mais do que a redenção do incompreensível, por isso não perguntes o que vês, o que ouves, o que tacteias, o que cheiras e o que saboreias. Não me perguntes. Eu nunca te poderia responder, porque se o faço agora não te diria a verdade.
E então quando os instantes são destituídos de sentido, soltas amarras e avivas a chama que há em ti. Fechas as portas ao conhecido, entregas-te a esta corrente alucinante e rejeitas as definições que não te pertencem. Porque nem tudo tem que fazer sentido. De tudo o que te define. Dos estados alterados de consciência, da clarividência e do incompreensível.
E quando me perguntas se é belo…devolvo-te a retórica. Sabes tão bem como eu que sim.

Walter

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Ehehe, ficou muito bom caro Walter, dois textos de pessoas diferentes que convergem para o mesmo sentido. Foi engraçado esta experiência de escrever dois textos de pessoas diferentes mas que falam basicamente do mesmo.
Obrigado pelo convite, foi num prazer.
Abraço

10:46 AM

Fiquei deveras impressionado com o resultado final. É uma honra para mim teres aceite o convite e como sempre escreveste de um modo sublime!não foi fácil entrar no teu texto que já dizia tudo, mas tentei chegar onde querias!Obrigado por teres aceite o convite, está de facto muito bom!
um abraço (para o sr.negociador):P
walter

2 vozes maravilhosas com um conteúdo arrebatador!
Parabéns aos 2: Pedrinho e Walter =)

***

adorei os dois textos. do último, gostei dessa parte:

"fechas as portas ao conhecido, entregas-te a esta corrente alucinante e rejeitas as definições que não te pertencem. porque nem tudo tem que fazer sentido."

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abraço de longe,
edu

http://coisasdagaveta.blogspot.com

Há momentos em que as palavras nos faltam, parece que já tudo foi dito!
Há momentos em que nos sentimos esmagados face ao tamanho e peso das palavras!
Não vou repetir que vocês escrevem muito bem (também já todas essas palavras foram ditas) apenas me limito a pedir-vos continuidade.

eheh, brigado caro amigo, apanhaste-me na net enquanto postava no "os sonhadores".
Estarei sempre por perto, um abraço amigo. Pedro

:) (:

Smiles...

Sorrio a esta forma bela de escrever...
Juntaram-se dois escritores que admiro, que já tinha equiparado quanto à sublimidade do que escrevem e eis senão que chego aqui e deparo-me com estes toques de paixão, com torneadas danças de letras, que foco com ou sem razão, não importa, desde que traga essa intensidade, esse sentimento...

Muitos parabéns desta fã, que não passa de "mim", mas vos lê com olhos atentos e com dedicação!

:)

Agora, se me permitem um comentário ao escrito, o incompreensível de que falam, não se compreende sequer, porque é inexplicável às redes da razão!
Sensibilidade, ao que nos obrigas :)

Muito bem escrito por ambos...o resultado só podia ser um: Perfeição. Um abraço aos dois.

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