Saturday, December 31, 2005 

E hoje as minhas asas são de fogo por vocês...

Permita-me a liberdade do amanhã saber que se renovam os sentimentos. E hoje o que foi amor, amanhã será a sua recordação. E hoje o que é recordação, amanhã poderá ser amor. Permita-me o amanhã que me entregue ao mar e ressurja em marés de fogo. E hoje sou eu que me visto de labaredas para que me vejas arder...porque não posso renovar-me se não me deixar arder. Eu sou tempo, palavras e imperfeições...e isso é o que tenho para ti.
Hoje vou procurar cada rosto quando olhar o céu, hoje concedo à minha noite um manto de sorrisos e vou guardar todos os lugares em mim. Hoje vou abraçar cada um de vós, vou rasgar a facilidade das palavras e guardar apenas aquelas que têm o aroma da veracidade. Hoje vou guardar todas as mãos na minha, vou chorar a sorrir, vou inundar-vos com a minha presença e no fim quando todos os olhares estiverem sobre mim...vou saber de cor os vossos relevos e todos os vossos lugares.
Vou seguir em frente, mesmo que cada passo me rasgue a pele e me faça sangrar. Hoje sou imune à dor se vocês a partilharem comigo. Hoje caminharei sobre a areia em direcção ao mar e vou mostrar-vos as minhas asas de fogo...vou voltar-me para trás, despedir-me-ei de vocês a sorrir e levanto vôo. Porque todos vocês me fazem voar.

Saturday, December 24, 2005 

Tenho um beijo para ti...

Faz-me falta acreditar. Em ti. Em mim. E em nós que por ventura irá existir. Faz-me falta acreditar que serás tu a dar-me a mão, que serás tu que te vais sentar ao meu lado em frente ao mar. Sabias que eu sou apaixonado pelo mar? Faz-me falta acreditar que caminharás comigo em alamedas de fogo, lado a lado sem medo de me perder.
Sinto a tua falta, agora que tatuei a aceitação no meu corpo. Fazes-me falta, agora que rasguei a maioria dos meus medos. Sabias que o meu maior medo é perder-te? E por isso, é que te fui iludindo na sucessão da distância e da comunhão.
Hoje, chamo por ti. Somente por ti, um rosto ainda sem nome que me dará a plenitude do ser e o êxtase do prazer. Vem que eu hoje deixo a porta aberta à espera que chegues e vou fechar os olhos para reconhecer apenas os teus passos. Passa a mão no meu rosto e olha-me nos olhos. Sabes que eu já te guardei em mim? E quando te agradecer por teres chegado, selarás o silêncio com um beijo. Há beijos que vão além do banal encontro de duas bocas. Beijos que conhecem o rasto da alma e têm guardado o som das chuvas. Beijos que trazem o sabor do amanhã no contorno dos lábios e cujo movimento das línguas denuncia o desejo de entrega irracional. Porque há beijos que nos despem e pedem por mais. E tu? Quando é que me vais encontrar?

Sunday, December 18, 2005 

Não me basta mais...

Porque desta vez és tu que o podes fazer. Sacrifica tudo o que não te dou e parte sem olhar para trás. Tantas foram as vezes em que fui eu que te sacrifiquei e nunca pensei em ti! Não era em ti que pensava quando o fazia. Apenas em mim.
Quero que caminhes sobre meus vestígios e me dês o renascimento com a lâmina do teu punhal. Vem…rasga o meu peito com o teu silêncio e destitui-me da regência deste império de recusas. Não sei porque esperas se te encontro enquanto durmo, se a noite se veste com a tua presença e se os teus passos são os meus. Não me faças esperar mais…eu que tantas vezes fiz da espera o meu brasão e da recusa escudos de sentir.
Vem e destrói-me…porque apenas tu o poderás fazer, tu que me vencerás no meu perverso jogo das relações. Destrói-me… a mim que sou a inconsistência dos afectos e instabilidade da entrega, porque comunguei tempo demais destes versículos do vazio e da negação que eu professo. E os sinos dobraram tantas vezes por ti. E hoje dobram por mim em apelos de bronze.
Não tenho mais porque esperar por ti se nunca por mim esperei… serei eu a entregar-me ao sacrifício e a entregar-te o punhal em mãos. Sacrifica o meu corpo que ainda te resta, mas não me vendes os olhos. Deixa-me ver enquanto me corrompes com a tua presença e me gritas por dentro em murmúrios de silêncio.
Vem. Sou eu que te peço. Vem tomar o que tantas vezes neguei. Porque um corpo não te basta mais. Não me basta mais.

Monday, December 12, 2005 

Açor...

Tens no olhar aromas de maresias e o calor de torrentes de lava, e tu melhor do que ninguém soubeste respeitar códigos do silêncio que por momentos impus entre nós. Abriste a janela e deixaste que a noite ouvisse o que tinha para te dizer. E por momentos o silêncio foi pesado, contudo eu sabia que aquele era o momento para me libertar das amarras do passado. Chorei contigo, expus as minhas fragilidades e dei-te a conhecer feridas que nunca chegaram a cicatrizar. Não me arrependo de o ter feito entre esperas, silêncios e cigarros e foi reconfortante sentir-te tão próximo, na tua presença silenciosa e disponível.
És angra em mim e limpaste as minhas lágrimas com a celebração das palavras que em ti tomam a forma do voo de um açor. Sabias que podes voar? E sempre que voares, eu abrirei as minhas asas e voarei contigo. Porque o teu caminho é o meu caminho e a tua felicidade é a minha. És a vitória do fogo feito lava e do renascer do amanhã. Imortalizaste momentos e levaste-me a acreditar que eu também posso ser feliz. E eu não tenho dúvidas de que tu vais ser feliz, uma vez que mereces sê-lo.
Deste-me a conhecer uma ilha que tens por tua e eu mostrei-te a ilha do meu derradeiro eu. Inundaste-me em marés de generosidade e foste istmos de terra basáltica que eu não sabia existirem.
E hoje não posso falar da distância entre nós, sei que estás guardado no calor de um abraço, no aroma de uma noite que parecia ter horas acrescidas apenas por nós, no brilho do teu olhar e nas longas caminhadas perto do mar. Deixei-te tanto de mim e trouxe tanto de ti.
Deste um nome à amizade, contigo ela também se chama Martim. Tu és transcendência e aliança. Renovação e utopia. O encontro sincero da amizade. E por seres assim eu facilmente abdicaria de mim sem olhar para trás sequer. Sem remorsos. Sem culpa.

Tuesday, December 06, 2005 

Nomes de fogo...

À medida que o brilho passa, a luz de um olhar perdido dissimula o perigo de ignorar a poeira de um precário acto de vida. Um dia perguntei-te para onde estavas a olhar, respondeste-me que procuravas no fundo dos meus olhos um pouco mais do que aquilo que te dou. Sabias que ainda existes na minha pele? Ainda me corres nas veias, aquelas que um dia eu quis acreditar serem vazias demais para nós.
Na ilusão de um tumulto disperso a loucura queima ao sabor do tempo, esse precioso e único instante de desagregação das horas em sedimentos de medo.Em voz muda, surdina, o grito de desespero, esse frágil murmúrio que permite sofrer na (in)certeza da dor. Tive medo de te perder. Só que esse medo sempre foi inferior ao de te encontrar. Guardei por demasiado tempo as minhas cinzas e tu eras o vento a quem eu jamais quis entregar as minhas fragilidades. Sim, fui eu que preferi perder-te em deixas de certeza do que conhecer o sabor do improviso das palavras incertas.
Na queima em chama crivada, pedaços de corpos são escolhidos ao pormenor por entre restos de cinzas que nos deleitam na morte; na certeza da dor da nossa própria poeira que nos permite arder. Pedaços de dois corpos que existiam numa realidade física, contudo jamais foram âncoras que prevenissem o naufrágio de um nós inexistente. Fragmentos de entregas e de paixões instintivas que se alimentavam da seiva transcendente de um eu e de um tu feito nós. E tudo isto não existiu em mim. Nunca existiu em mim.
São horas de vigília, suicídio aparente, metamorfose de uma chama/luz que acendemos e suspiramos na angústia dos nomes que repetimos em orações de esperança. Ergui mosteiros de reclusão e dei o teu nome ao silêncio, para logo depois o violar em celebrações de distância. Celebrei a tua ausência em salmos de mais além e confissões de passados para me aperceber que regressas ao lugar que nunca chegaste a perder em mim.
Queimam e ardem nomes de fogo que nos arrastam num infinito descontrolado do nosso próprio saber ou apenas se alimentam da combustão do ar que respiramos e que nos consome; tornando-nos imóveis, escravos, servos, reféns de uma guerra insana de falsos presságios de uma conquista futura. Não chegámos a conhecer o futuro e o nosso presente foi limitado. Larguei a tua mão e dei-te bússolas e astrolábios para seguires, afinal fui eu que te dei asas quando mutilei as minhas. Porque fui eu que não quis voar contigo.
Rogamos pragas, rezamos aos céus, queremos chuva, água, mar; que chova como nunca choveu, que nos inunde e arraste como nunca o fez, nos afogue, apague finalmente essa chama de uma prece vinda numa hora de ilusão e que permita o disfarce de lágrimas em água no disfarce de um choro que nos faz sofrer. Dói demais que nos vejam sofrer. Que chova e que o mar conheça as nossas lágrimas de sal e dor, mas apenas no esboço de um monólogo.
Uma chuva nas cinzas das horas que nos traga união, evapore, seja o perfeito disfarce desse nosso sangue fugitivo que nos domina, nos mitiga, nos engana em doces e tentadoras letargias.
Eu? Poderei ser um dos restos dessa poeira branca e negra contida nos aromas, sons, silêncios invisíveis e nas infinitas promessas de um futuro amanhã; na espera de tudo, do nada, ou na procura de uma ténue chama de doces fantasias. Procuro opostos, semelhantes, equilíbrios de uma sentença de amor, ou apenas uma forma única de sentir, embora a minha alma enfrente somente um gelo frio que nunca conseguirei vencer, enquanto continuar a contaminar os modos de te encontrar e a vendar os modos de te sentir. Porque eu sou assim e tu não sabes de tudo isso.
Tu? Serás o outro lado das horas solitárias, a comunhão do devir dos instantes, a descoberta dos nossos corpos como se fosse sempre a primeira vez, a simbiose do fogo com o vento, prólogos e epílogos das horas Tu serás o que és para mim, o que és, bem como serás um eu, um tu e um nós. Chegarás a ser?

Walter e Orfeu

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