Nomes de fogo...
À medida que o brilho passa, a luz de um olhar perdido dissimula o perigo de ignorar a poeira de um precário acto de vida. Um dia perguntei-te para onde estavas a olhar, respondeste-me que procuravas no fundo dos meus olhos um pouco mais do que aquilo que te dou. Sabias que ainda existes na minha pele? Ainda me corres nas veias, aquelas que um dia eu quis acreditar serem vazias demais para nós.
Na ilusão de um tumulto disperso a loucura queima ao sabor do tempo, esse precioso e único instante de desagregação das horas em sedimentos de medo.Em voz muda, surdina, o grito de desespero, esse frágil murmúrio que permite sofrer na (in)certeza da dor. Tive medo de te perder. Só que esse medo sempre foi inferior ao de te encontrar. Guardei por demasiado tempo as minhas cinzas e tu eras o vento a quem eu jamais quis entregar as minhas fragilidades. Sim, fui eu que preferi perder-te em deixas de certeza do que conhecer o sabor do improviso das palavras incertas.
Na queima em chama crivada, pedaços de corpos são escolhidos ao pormenor por entre restos de cinzas que nos deleitam na morte; na certeza da dor da nossa própria poeira que nos permite arder. Pedaços de dois corpos que existiam numa realidade física, contudo jamais foram âncoras que prevenissem o naufrágio de um nós inexistente. Fragmentos de entregas e de paixões instintivas que se alimentavam da seiva transcendente de um eu e de um tu feito nós. E tudo isto não existiu em mim. Nunca existiu em mim.
São horas de vigília, suicídio aparente, metamorfose de uma chama/luz que acendemos e suspiramos na angústia dos nomes que repetimos em orações de esperança. Ergui mosteiros de reclusão e dei o teu nome ao silêncio, para logo depois o violar em celebrações de distância. Celebrei a tua ausência em salmos de mais além e confissões de passados para me aperceber que regressas ao lugar que nunca chegaste a perder em mim.
Queimam e ardem nomes de fogo que nos arrastam num infinito descontrolado do nosso próprio saber ou apenas se alimentam da combustão do ar que respiramos e que nos consome; tornando-nos imóveis, escravos, servos, reféns de uma guerra insana de falsos presságios de uma conquista futura. Não chegámos a conhecer o futuro e o nosso presente foi limitado. Larguei a tua mão e dei-te bússolas e astrolábios para seguires, afinal fui eu que te dei asas quando mutilei as minhas. Porque fui eu que não quis voar contigo.
Rogamos pragas, rezamos aos céus, queremos chuva, água, mar; que chova como nunca choveu, que nos inunde e arraste como nunca o fez, nos afogue, apague finalmente essa chama de uma prece vinda numa hora de ilusão e que permita o disfarce de lágrimas em água no disfarce de um choro que nos faz sofrer. Dói demais que nos vejam sofrer. Que chova e que o mar conheça as nossas lágrimas de sal e dor, mas apenas no esboço de um monólogo.
Uma chuva nas cinzas das horas que nos traga união, evapore, seja o perfeito disfarce desse nosso sangue fugitivo que nos domina, nos mitiga, nos engana em doces e tentadoras letargias.
Eu? Poderei ser um dos restos dessa poeira branca e negra contida nos aromas, sons, silêncios invisíveis e nas infinitas promessas de um futuro amanhã; na espera de tudo, do nada, ou na procura de uma ténue chama de doces fantasias. Procuro opostos, semelhantes, equilíbrios de uma sentença de amor, ou apenas uma forma única de sentir, embora a minha alma enfrente somente um gelo frio que nunca conseguirei vencer, enquanto continuar a contaminar os modos de te encontrar e a vendar os modos de te sentir. Porque eu sou assim e tu não sabes de tudo isso.
Tu? Serás o outro lado das horas solitárias, a comunhão do devir dos instantes, a descoberta dos nossos corpos como se fosse sempre a primeira vez, a simbiose do fogo com o vento, prólogos e epílogos das horas Tu serás o que és para mim, o que és, bem como serás um eu, um tu e um nós. Chegarás a ser?
Walter e Orfeu
Na ilusão de um tumulto disperso a loucura queima ao sabor do tempo, esse precioso e único instante de desagregação das horas em sedimentos de medo.Em voz muda, surdina, o grito de desespero, esse frágil murmúrio que permite sofrer na (in)certeza da dor. Tive medo de te perder. Só que esse medo sempre foi inferior ao de te encontrar. Guardei por demasiado tempo as minhas cinzas e tu eras o vento a quem eu jamais quis entregar as minhas fragilidades. Sim, fui eu que preferi perder-te em deixas de certeza do que conhecer o sabor do improviso das palavras incertas.
Na queima em chama crivada, pedaços de corpos são escolhidos ao pormenor por entre restos de cinzas que nos deleitam na morte; na certeza da dor da nossa própria poeira que nos permite arder. Pedaços de dois corpos que existiam numa realidade física, contudo jamais foram âncoras que prevenissem o naufrágio de um nós inexistente. Fragmentos de entregas e de paixões instintivas que se alimentavam da seiva transcendente de um eu e de um tu feito nós. E tudo isto não existiu em mim. Nunca existiu em mim.
São horas de vigília, suicídio aparente, metamorfose de uma chama/luz que acendemos e suspiramos na angústia dos nomes que repetimos em orações de esperança. Ergui mosteiros de reclusão e dei o teu nome ao silêncio, para logo depois o violar em celebrações de distância. Celebrei a tua ausência em salmos de mais além e confissões de passados para me aperceber que regressas ao lugar que nunca chegaste a perder em mim.
Queimam e ardem nomes de fogo que nos arrastam num infinito descontrolado do nosso próprio saber ou apenas se alimentam da combustão do ar que respiramos e que nos consome; tornando-nos imóveis, escravos, servos, reféns de uma guerra insana de falsos presságios de uma conquista futura. Não chegámos a conhecer o futuro e o nosso presente foi limitado. Larguei a tua mão e dei-te bússolas e astrolábios para seguires, afinal fui eu que te dei asas quando mutilei as minhas. Porque fui eu que não quis voar contigo.
Rogamos pragas, rezamos aos céus, queremos chuva, água, mar; que chova como nunca choveu, que nos inunde e arraste como nunca o fez, nos afogue, apague finalmente essa chama de uma prece vinda numa hora de ilusão e que permita o disfarce de lágrimas em água no disfarce de um choro que nos faz sofrer. Dói demais que nos vejam sofrer. Que chova e que o mar conheça as nossas lágrimas de sal e dor, mas apenas no esboço de um monólogo.
Uma chuva nas cinzas das horas que nos traga união, evapore, seja o perfeito disfarce desse nosso sangue fugitivo que nos domina, nos mitiga, nos engana em doces e tentadoras letargias.
Eu? Poderei ser um dos restos dessa poeira branca e negra contida nos aromas, sons, silêncios invisíveis e nas infinitas promessas de um futuro amanhã; na espera de tudo, do nada, ou na procura de uma ténue chama de doces fantasias. Procuro opostos, semelhantes, equilíbrios de uma sentença de amor, ou apenas uma forma única de sentir, embora a minha alma enfrente somente um gelo frio que nunca conseguirei vencer, enquanto continuar a contaminar os modos de te encontrar e a vendar os modos de te sentir. Porque eu sou assim e tu não sabes de tudo isso.
Tu? Serás o outro lado das horas solitárias, a comunhão do devir dos instantes, a descoberta dos nossos corpos como se fosse sempre a primeira vez, a simbiose do fogo com o vento, prólogos e epílogos das horas Tu serás o que és para mim, o que és, bem como serás um eu, um tu e um nós. Chegarás a ser?
Walter e Orfeu
Fica presente a necessidade de absorver o sentir alheio; as vontades pequenas em entregas diárias e as marcas dos sentimentos diversos que não se movem...
Posted by Cristiano Contreiras | 1:46 am
Ficou um texto bonito (no meu entender), descritivo, sentido e na primeira pessoa como revolta interior. É curioso esta forma de pensar (da qual não estava habituado) o complemento de ideias, pensamentos, do fluir de um texto/sentimento entre duas pessoas diferentes. São Nomes de Fogo nas Cinzas das Horas...
Adorei o teu absorver das minhas palavras e a união do teu "dom" peculiar de sentir.
Na minha opinião o resultado foi muito bom...Obrigado pelo convite...Foi um enorme prazer...
Um abraço
Posted by Morfeu | 6:51 pm
Nunca me juntei com ninguém para escrever. Para mim, escrever é um acto solidário, embora, na maior parte das vezes a pessar em alguém que não eu...
Um bom texto, ao qual já nos habituaram estes escritores!
:)
Posted by Eli | 2:38 am
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Posted by Eli | 2:18 am
Eu queria dizer solitário, onde escrevi "solidário", embora o seja também, como aconteceu neste caso...
Posted by Eli | 2:19 am
boa escolha para dividir a criação do texto. ficou muito bom. gostei bastante.
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um abraço. de bem longe.
eduardo
http://coisasdagaveta.blogspot.com
Posted by Eduardo Baszczyn | 10:00 am