Sorrisos e feridas por cicatrizar...
Com a mestria de quem tem algo a esconder quando tudo está revelado, assumo aquilo que durante longas sucessões de horas me recusei a aceitar. Tantas foram as horas fundidas em compassos de espera. Intermináveis foram as horas em que fui assaltado pelo medo que recuperasses o teu lugar em mim.
Agora que a tua ausência ocupa o meu lugar assumo que preciso de ti. Preciso de te sentir, agora que só sinto o vazio da tua ausência e o teu silêncio tão físico. Preciso de ler o contorno dos teus lábios e conhecer as palavras que não tens para me dizer. Recolher essas tuas palavras inebriantes com sabor a fogo e a mar.
Queria guardar o teu sorriso nas minhas mãos e fechá-las de seguida para não te perder. Então permaneceria teimosamente na recusa e não mais as abriria até que a dor lancinante da perda me rasgasse a pele e me queimasse as palavras e as ordens do silêncio. E aí eu sangrava pela tua ausência, deixava fugir o tempo e quando despertasse em mim o amanhecer, abriria as mãos e as feridas não mais existiriam, pois teriam sido cicatrizadas pelo teu sorriso.