Da totalidade...
Resgata-me de tudo o que em mim aprisiona a minha vontade de sentir e me dilacera as veias por onde correm as vontades intrínsecas que pedem alforria. E sucedo-me em tempos distintos mesmo quando o hoje não é mais do que um ontem, quando as palavras são vazias e se diluem em mediocridades, mesmo quando me deparo com o mesmo Eu distónico que apenas parece fazer sentido na vida dos outros.
Não me bastam mais universos divididos e fragmentos de realizações, pois não tenho lugar para identidades parciais, agora só quero abraçar a totalidade e soçobrar perante as metamorfoses que me farão ressurgir renovado. Quero renunciar a sentimentos distorcidos e proclamar a legitimidade de tudo o que sinto. Não quero mais esculpir esperas e edificar muralhas, não quero mais amordaçar a liberdade nem deter as catarses que me aproximam de todos os lugares a que nunca acedi. Rejeito aparências e procuro o cerne de tudo o que acredito, pois há muito que me resignei a fronteiras e limites intrínsecos demasiado circunscritos a tudo aquilo que conheço.
Quero renunciar a mim e aceitar-me na plenitude de tudo o que sou, porém não sou senão o que sou para os outros.