Monday, January 24, 2005 

Sonetos de tudo aquilo que sou...

"Eu sou o solitário e nunca minto.
Rasguei toda a verdade tira a tira.
E caminho sem medo e sem mentira
À luz crepuscular do meu instinto.

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu- coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.

Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pr'além do nó da angústia mais convulso."
S. Andresen

Este é o soneto de Ser, o encontro das palavras com tudo aquilo que não sei se sou. Pois tudo o que sou, não é mais do que a multiplicidade de Ser. Eu não o caminho, eu não sou a verdade, eu não sou a vida, e tu dir-me-ás o que sou para ti?
Eu serei tudo aquilo que sou para todos aqueles que me levam guardado em si.

Sunday, January 23, 2005 

Porque um dia sairei magoado...

Quando algum dia me magoares, não o faças por palavras, não o faças por ausências... fá-lo com um sorriso!Resgata-me de todos os lugares onde me deixaste e dificilmente esquecerei a dor de te ver sorrir!

 

Psicastenia ou a dor de sentir...

Tenho momentos em que sinto que o real se desvanece no devir dos instantes! Como se tudo convergisse ao meu redor e nunca em mim, como se tudo fosse etéreo à minha volta a cada passo que dou! Esta é a minha dor de sentir a perda do real.
E neste instante procuro tomá-lo nas minhas mãos, rapidamente as fecho para guardar o real em mim, e ao abri-las... tenho uma mão cheia de nada e outra onde mora o vazio!

Monday, January 10, 2005 

Da minha janela esquecer-me-ei a noites longínquas...

Da minha janela vejo a noite, aquela onde as constelações são todos aqueles que fazem parte de mim. Da minha noite vejo o mundo, aquele que se constrói por cada momento que resgato da diluição do esquecimento. Da minha noite vejo todas as noites, aquelas que por terem passado se fundem nos traços convergentes do infinito. Da minha noite vejo o mundo e todos os mapas do céu, aqueles que radicam no arredondamento dos tempos longínquos e no palco onde todas as personagens renunciam.

Friday, January 07, 2005 

Porque nada mais haverá para dizer...

"A um ausente
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o acto sem continuação, o acto em si, o acto que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste."
Carlos Drummond de Andrade

E nada mais tenho para dizer... apenas e só a perda que se consumou no encontro da vida com as horas.

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