Regresso...
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Nunca te falei do sítio onde morava. Não te falei de quartos erigidos a paredes de recusas e das janelas que abria para todos os silêncios que eu tornava ensurdecedores. Nunca te falei das cartas rasgadas, do soalho já gasto por todos os passos de clausura, de todos os versos brancos que deixei tatuados em mim. Nunca te falei de todos os modos em que me recriava em novas personagens para me esconder de mim. De ti. De nós.
Nunca te falei do sítio onde me encontrava, não te falei de como as minhas asas eram frágeis e de todas palavras etéreas que disfarçava de violinos para que não as reconhecesse como minhas.
Nunca te falei desse espaço que abriste de par em par, nunca te falei de todos os segredos que as paredes deste espaço quieto sussurravam, nunca te falei de quando abandonei as certezas e caminhei em direcção a ti. Porque tu não precisas de saber. Porque só tu me dás o encontro e o ser. Porque nunca te disse o quanto gosto de ti. Porque sei que o sabes. E se a dúvida se afigurar, pede-me um beijo. Só assim saberás o quanto gosto de ti.
Deixei que tomasses o teu lugar em mim, aquele que tantas vezes me neguei. Aquele que tantas vezes te neguei. Foram tantas as que por mim passaram, foram tantas as que por mim quis que ficassem. Mas apenas tu aconteceste em mim. Apenas tu que apagaste presenças do passado e que me lês silenciosamente nesta sucessão de palavras desavindas.
Aconteceste em mim. Deste nome a todas as minhas palavras e conquistas-me sempre que me olhas nos olhos e me pedes um beijo. E nesse momento aconteces em mim, porque sei que sou teu e tu também me pertences neste jogo de bocas que se encontram. Aconteces em mim sempre que nomeias cada um dos meus silêncios, porque podes ser tu. Ou não. Mas para quê falar de futuros se é o presente que temos em mãos? E neste presente trago-te em mim, aconchego-te no meu peito e procuro a tua boca para te segredar que cada vez mais aconteces em mim.