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Friday, August 26, 2005 

Da espera...

Ouvia caminhar lá fora e sentia-me invadido por seguranças inúteis. Afinal enquanto assim o fosse não seria em mim. Alguém caminhava nessas ruas que eu ia deixando conhecer, meras sucessões de passos que ganhavam existência e logo se extinguiam pela falta de rumo. Sempre me protegi arquitectando cantos angulosos e caminhos demasiado estreitos para serem cruzados a dois.
Ouvia passos desconhecidos e esperava, neste ventre de defesas inúteis, vê-los diluídos em fogueiras de desistências. Então celebrava mais uma vitória, não mais que uma vitória fracassada e vã.
Subitamente os passos conheciam a proximidade diminuída e traziam guardado a fonética dos encontros e o som das recusas vencidas. Apressava-me a fechar a porta na esperança de te deter. Chegavas. Batias à porta não como quem pede para entrar pela primeira vez, mas como se apenas tivesses perdido momentaneamente a chave e logo a porta se abria.
Aproximavas-te como a noite que antecipa a madrugada rasgando a distância dos instantes. Procuravas nos desvios do olhar razões do passado e logo me estendias a mão, a mim que no fundo continuo à tua espera enquanto me disfarço de auto-suficiências.

hmmm muito bonito, como sempre* :)

Belo texto. Intimista. Muito bem escrito. Revelador de sensiblidade analítica, sem cair no erro da auto-complacência. Profundamente maduro. E extremamente bonito.

Os meus parabéns.

Um abraço.
Ricardo.

Escrita ferina que acaba por caracterizar o teu ser e cotidiano ferino.

Um bom texto, parabéns :)

Beijinho

O querer que descubram o que damos a descobrir, que conheçam que damos a conhecer, que sejam o que desejamos…sem dizer. Jogo? Utopia? Apenas uma espera que esperamos sempre que seja por nós...apenas e só.
Um abraço

Posso dizer-te que te compreendo bem e que as tuas palavras poderiam ser minhas.

Como fico feliz por descobrir pessoas que escrevem assim...
Sentem o que escrevem e transparecendo sentimentos, assim os transmitem a quem dantes os sentia, mas que não tinham voz porque estavam presos em gargantas!

Desculpa-me... fizeste-me falar...

Estas esperas estão tão próximas ... os teus textos são tão reveladores ... as tuas metáforas são tão belas ...

Um abraço

Escreves com mestria sentimentos tão simples e, contudo, tão complexos...

"Sempre me protegi arquitectando cantos angulosos e caminhos demasiado estreitos para serem cruzados a dois"... como te compreendo!

E amei o final... :)

Gostei especialmente deste. Beijo

Fiquei siderada neste texto, especialmente com o seu final.
Deregresso vim cá deixar-te um beijo

Keridos Amigos

As férias terminaram...
...assim como um muro de areia
se desfaz... frente a uma onda... mais ousada.

o tempo passou
sem horários...
livre...
repousante...
um pouco dorido...
e
guloso.

não foram as melhores férias
...pois a saúde falhou um pouco
e
não ajudou
como deveria,
porém foi tão bom
estar junto dos meus deuses
que até o tratamento me pareceu mais leve.

devo dizer-vos
que senti saudades
das palavras
dos desenhos
das músicas
das imagens
a que todos vocês me habituaram
(principalmente
quando era castigada
pela imobilidade da medicação)
...mas...
para o ano
levarei comigo um portátil
que irei ganhar no euro-milhões...
... por esse motivo vou desde já começar
a lançar a sorte
e escolher os números.

Keridos
tudo isto para vos dizer
que não vos esqueci
e
para avisar
que a partir de hoje
vou perder
muitas horas gulosas...
a “fazer visitas”.

Beijux létinha.

Ps. desculpem ter usado a mesma
mensagem para todos...
mas não foi possível “personalizar”
.....................................
obrigada pelo “perdão”
.....................................
sois uns amores.

Como conheço essas barreiras e essas mascaras de auto-suficiencia. E como sei que são em vão.

Como sei que há pessoas que simplesmente nos conhecem os passos, que nos procuram ate onde nos julgamos nao estar e nons encontram e fazem de conta que sempre nos viram... Há pessoas que tem essa capacidade, de nos invadir como se nos o tivessemos pedido...
E não é bom, as vezes, sentir que fazemos parte da historia de encantar de outro alguem?

Um dia quebram-se as barreiras todas do mundo e ficas tu, na tua auto-suficiencia, de porta aberta.

Um beijo

Os olhos traiem-nos sempre.
A nossa auto-suficiência desmorona-se quando sentimos o ímpeto em nós, o impulso, o sentimento.
Podemos resistir...mas será que é isso que devemos? ;)

Continuas em grande com os teus textos!
Beijokas

Nas tuas complexas maquinações de palavras e sucessões, transportas-me para um mundo que poderia ser de nós todos...

Não será o esperar alguém que sabemos que não virá, o que nos alimenta o fogo interior?!

Abraço. Martim

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