Da espera...
Ouvia caminhar lá fora e sentia-me invadido por seguranças inúteis. Afinal enquanto assim o fosse não seria em mim. Alguém caminhava nessas ruas que eu ia deixando conhecer, meras sucessões de passos que ganhavam existência e logo se extinguiam pela falta de rumo. Sempre me protegi arquitectando cantos angulosos e caminhos demasiado estreitos para serem cruzados a dois.
Ouvia passos desconhecidos e esperava, neste ventre de defesas inúteis, vê-los diluídos em fogueiras de desistências. Então celebrava mais uma vitória, não mais que uma vitória fracassada e vã.
Subitamente os passos conheciam a proximidade diminuída e traziam guardado a fonética dos encontros e o som das recusas vencidas. Apressava-me a fechar a porta na esperança de te deter. Chegavas. Batias à porta não como quem pede para entrar pela primeira vez, mas como se apenas tivesses perdido momentaneamente a chave e logo a porta se abria.
Aproximavas-te como a noite que antecipa a madrugada rasgando a distância dos instantes. Procuravas nos desvios do olhar razões do passado e logo me estendias a mão, a mim que no fundo continuo à tua espera enquanto me disfarço de auto-suficiências.
hmmm muito bonito, como sempre* :)
Posted by rita | 12:51 pm
Belo texto. Intimista. Muito bem escrito. Revelador de sensiblidade analítica, sem cair no erro da auto-complacência. Profundamente maduro. E extremamente bonito.
Os meus parabéns.
Um abraço.
Ricardo.
Posted by Ricardo Simaes | 11:06 pm
Escrita ferina que acaba por caracterizar o teu ser e cotidiano ferino.
Posted by Cristiano Contreiras | 2:43 pm
Um bom texto, parabéns :)
Beijinho
Posted by Nina | 3:14 pm
O querer que descubram o que damos a descobrir, que conheçam que damos a conhecer, que sejam o que desejamos…sem dizer. Jogo? Utopia? Apenas uma espera que esperamos sempre que seja por nós...apenas e só.
Um abraço
Posted by Morfeu | 12:30 am
Posso dizer-te que te compreendo bem e que as tuas palavras poderiam ser minhas.
Como fico feliz por descobrir pessoas que escrevem assim...
Sentem o que escrevem e transparecendo sentimentos, assim os transmitem a quem dantes os sentia, mas que não tinham voz porque estavam presos em gargantas!
Desculpa-me... fizeste-me falar...
Posted by Eli | 9:27 pm
Estas esperas estão tão próximas ... os teus textos são tão reveladores ... as tuas metáforas são tão belas ...
Um abraço
Posted by Anonymous | 12:13 am
Escreves com mestria sentimentos tão simples e, contudo, tão complexos...
"Sempre me protegi arquitectando cantos angulosos e caminhos demasiado estreitos para serem cruzados a dois"... como te compreendo!
E amei o final... :)
Posted by Anonymous | 1:23 am
Gostei especialmente deste. Beijo
Posted by Marta | 4:22 pm
Fiquei siderada neste texto, especialmente com o seu final.
Deregresso vim cá deixar-te um beijo
Posted by mar revolto | 7:33 pm
Keridos Amigos
As férias terminaram...
...assim como um muro de areia
se desfaz... frente a uma onda... mais ousada.
o tempo passou
sem horários...
livre...
repousante...
um pouco dorido...
e
guloso.
não foram as melhores férias
...pois a saúde falhou um pouco
e
não ajudou
como deveria,
porém foi tão bom
estar junto dos meus deuses
que até o tratamento me pareceu mais leve.
devo dizer-vos
que senti saudades
das palavras
dos desenhos
das músicas
das imagens
a que todos vocês me habituaram
(principalmente
quando era castigada
pela imobilidade da medicação)
...mas...
para o ano
levarei comigo um portátil
que irei ganhar no euro-milhões...
... por esse motivo vou desde já começar
a lançar a sorte
e escolher os números.
Keridos
tudo isto para vos dizer
que não vos esqueci
e
para avisar
que a partir de hoje
vou perder
muitas horas gulosas...
a “fazer visitas”.
Beijux létinha.
Ps. desculpem ter usado a mesma
mensagem para todos...
mas não foi possível “personalizar”
.....................................
obrigada pelo “perdão”
.....................................
sois uns amores.
Posted by "Sonhos Sonhados" e "Os Filmes da Minha Vida!" | 10:54 pm
Como conheço essas barreiras e essas mascaras de auto-suficiencia. E como sei que são em vão.
Como sei que há pessoas que simplesmente nos conhecem os passos, que nos procuram ate onde nos julgamos nao estar e nons encontram e fazem de conta que sempre nos viram... Há pessoas que tem essa capacidade, de nos invadir como se nos o tivessemos pedido...
E não é bom, as vezes, sentir que fazemos parte da historia de encantar de outro alguem?
Um dia quebram-se as barreiras todas do mundo e ficas tu, na tua auto-suficiencia, de porta aberta.
Um beijo
Posted by Patrícia Mota | 10:46 pm
Os olhos traiem-nos sempre.
A nossa auto-suficiência desmorona-se quando sentimos o ímpeto em nós, o impulso, o sentimento.
Podemos resistir...mas será que é isso que devemos? ;)
Posted by Rosa Cueca | 3:16 pm
Continuas em grande com os teus textos!
Beijokas
Posted by mar revolto | 7:53 pm
Nas tuas complexas maquinações de palavras e sucessões, transportas-me para um mundo que poderia ser de nós todos...
Não será o esperar alguém que sabemos que não virá, o que nos alimenta o fogo interior?!
Abraço. Martim
Posted by Martim | 10:16 pm