Danúbio...
Costumavas pegar na minha mão e segredavas-me ao ouvido palavras que me embriagavam os sentidos e me deixavam à mercê da tua vontade. Dissolvias as sombras nos teus passos e congregavas em ti uma estranha luz de certezas que entorpecia esta racionalidade absurda que me abraça. Escolhias uma estranha linguagem de gestos, de silêncios e de palavras que me inebriavam e me tornavam numa personagem desse teu mundo desequilibrado de ausências e de presenças fugazes.
Sempre me soubeste conduzir nessas tuas valsas pelos salões de Viena que me davas a conhecer apenas quando me falavas deles. E a valsa prosseguia como se guardasses Strauss na tua voz e o teu corpo obrigava-me a seguir-te em compassos ternários de envolvências.
Dançávamos em círculos demasiado perfeitos que circunscreviam promessas futuras e palavras despidas de presentes. Enquanto estávamos à minha margem falavas de sociedades secretas e do sabor da eternidade, contudo ambos desconhecíamos as longas cadeias de tempo que a construíam. E a valsa prosseguia nesta indefinição de sentimentos e das horas.
Contigo os segredos tinham a transcendência da cor e a valsa era revestida de ilusões! E contigo o Danúbio era multicolor e eterno…contigo o Danúbio sempre foi mais azul. Mas hoje a valsa cessou e o Danúbio continua a correr. Só não encontro sinais de ti.